Meu amor por guilty pleasures



Pra quem não sabe, guilty pleasures (“prazeres culpados”, em tradução literal) são aquelas coisas das quais gostamos, mas nem sempre nos sentimos confortáveis em admitir. Antes de qualquer coisa, já vou começar dizendo que a hipocrisia é inerente ao ser humano e ninguém deve ser julgado com base nela. O que realmente pode vir a ser um problema é não reconhecermos que somos, de fato, hipócritas. Por que isso é importante? Bom, é bastante simples.
Todas as pessoas escondem, nem que seja de um pequeno grupo, alguns de seus hábitos e gostos dos quais não se orgulham tanto. Você já entendeu do que isso se trata: daquelas séries pouco convincentes, filmes bobos, livros que deixam um pouco a desejar ou vídeos controversos que você adora. É claro que seus entes mais próximos, ou conhecidos com quem você tem alguma dessas coisas em comum, provavelmente sabem do seu segredinho, mas você o contaria a alguém que acabou de conhecer?
Pense bem naquele drama adolescente com personagens clichê, erros de continuidade, trama falha... Você teria o instinto de divulgar a sua adoração por uma história dessas  pra alguém que não sabe nada sobre você? Acho que não. Nessas horas, contamos anedotas sobre nosso cotidiano, falamos de planos para o futuro ou, no máximo, mencionamos alguns de nossos interesses mais, por assim dizer, cultos.
Tendo em vista a possibilidade de se querer arriscar uma eventual conversa sobre qualquer desses temas um tanto vergonhosos, surge o guilty pleasure. Ele dá aquele efeito blasé que te permite dizer coisas como “Ah, a novela das oito? Adoro!” e, depois de verificar o já esperado olhar de incredulidade do seu ilustre interlocutor, explicar que “Não posso evitar a simpatia, é um guilty pleasure...”.
Aqui vão alguns dos meus próprios “prazeres culpados”:

Supernatural – Acho que todos que conhecem a série dos irmãos Winchester me entendem quando eu digo que, se comparada às primeiras temporadas, já não é a mesma coisa. Mas, ainda assim, mesmo as primeiras temporadas não eram lá isso tudo. Faz um tempinho que não vejo (desde o início da oitava temporada), mas, da última vez que assisti, - SPOILER das temporadas 7 e 8 - um novo tipo de monstro tinha surgido – os leviatãs – e mais uma ressurreição de um dos irmãos Winchester tinha acabado de acontecer... se é que dá pra considerar o Dean voltando do Purgatório para o nosso mundo como uma ressurreição - fim do SPOILER das temporadas 7 e 8 - . A história já deu milhões de voltas desse tipo: alguém se sacrifica por alguém, morre, volta, deve favores, mata os responsáveis, essas coisas. Tudo sempre envolveu muitos anjos, demônios, vampiros, lobisomens e várias outras criaturas das mais diferentes mitologias, algumas coisas das quais nunca ouvimos falar. É um tal de referências bíblicas, rixas entre personagens poderosos, beber sangue de demônio, ter a alma perdida, muita confusão. A série é uma zona, todo o suspense das temporadas antigas já desapareceu, é um caos que não acaba mais! Simplesmente amo.

Os Instrumentos Mortais – Preciso pisar com cuidado ao falar desses livros (todos os Ourives são fãs da série e eu sou uma participante ativa do fandom), mas vamos lá. Começando pelas capas. Acho todas as capas de livros da Cassandra Clare horrorosas. Sim, todas, as de As Peças Infernais também. Principalmente por isso (tá, eu sei, muito feio julgar o livro pela capa), demorei muito a começar a ler e, quando comecei, já comecei criticando. Cassie não escreve bem, a personagem principal é muito chata, a história é previsível, blá blá blá. Tenho de confessar que não parei de achar nada disso. A escrita da autora melhorou? Sim, é claro que melhorou! Principalmente em As Peças Infernais, a diferença é muito perceptível, mas ainda há algumas coisinhas que precisam de polimento, especialmente no que diz respeito à precisão histórica da trilogia (são detalhes que poderiam passar pela explicação de “Caçadores de Sombras são exageradamente liberais”, mas ainda força um pouco a barra). Mas, sendo o assunto Os Instrumentos Mortais, vamos voltar ao tópico. Quando finalmente peguei a série para ler, estava em uma fase pós fim de Harry Potter, no início de uma transição (da qual eu confesso ter feito parte a Saga Crepúsculo – mais uma coisa que pode ser descrita como um guilty pleasure, só que em escala astronômica) para livros um pouco mais maduros, depois de uma vida inteira de infantis e YA. Quem diria que eu teria tamanho retrocesso... Clary me irritava ao máximo, eu sempre sabia o que ia acontecer, a edição era péssima. Ficava pensando que aquele livro já não era mais o tipo de história que me agradava, mas não conseguia não me apaixonar pelos personagens; queria me convencer de que a trama não estava me prendendo, mas a bola de neve de acontecimentos me acertou em cheio. Não existem séries de livros mais viciantes do que as de Cassandra Clare. Li tudo em pouquíssimos dias, havia tempos que não me sentia tão fangirl de alguma coisa. São histórias cativantes, com um ritmo enlouquecedor e, apesar dos pesares, extremamente divertidas. Fiquei tão maluca com a série que vou fazer o possível para sair do conforto da minha capital para ver a estreia do filme em um centro de fãs mais badalado.

Filmes de super-heróis – Não, nunca li os quadrinhos. Os filmes de super-heróis são sempre aquela alegoria de explosões, lutas, trocadilhos clichês e muita ação. Todos apresentam explicações falhas, sejam elas sobre os superpoderes, sobre a motivação maligna do vilão ou sobre o passado do personagem principal. Sempre podemos observar aquele típico patriotismo estadunidense exacerbado, atentados inexplicáveis onde ninguém se fere, tecnologias além da imaginação. Os cidadãos retratados nos filmes (com exceções) dificilmente questionam se aquilo deveria ser permitido, se suas vidas deveriam ser colocadas nas mãos de um vingador mascarado sobre o qual nada sabem. Claro que podemos ver diferenças gritantes entre certos filmes – não se pode comparar a atmosfera sombria da trilogia O Cavaleiro das Trevas com a descontração de Os Vingadores, por exemplo –, mas a essência tende a permanecer a mesma. Não há melhor diversão do que as piadinhas infames, os romances previsíveis (e imprevisíveis), as batalhas épicas e todo o charme que encontramos em filmes de super-heróis.

Vlogs no Youtube – Um novo motivo para eu classificar os canais que acompanho no Youtube como sendo guilty pleasures surgiu há pouco tempo, conversando com colegas blogueiros. Recentemente, descobri que grande parte dos internautas leitores acompanham vlogs sobre livros. Parece óbvio, não? Bom, não pra mim. Leitora ávida que sou, raramente pesquiso sobre livros na internet. Sou dessas que vão a livrarias físicas e passam horas olhando livros, memorizando os nomes, lendo as sinopses. Trocar um reconhecimento tão pessoal dos livros por vídeos e resenhas? Jamais! Quando assisto a vídeos no Youtube, vou direto aos mais manjados: PC Siqueira e Felipe Neto. Acompanho os canais dos dois, além de ver vídeos da Parafernalha (projeto do Felipe) e do Rolê Gourmet (projeto do PC). Posso até ouvir o estranhamento de alguns: “Mas qual é o problema?”. Bom, não é que sejam vídeos ruins, chatos ou de má qualidade, mas a impressão que tenho de algumas pessoas que assistem a eles não é muito favorável. Posso estar errada, mas me parece que os espectadores dos vlogs do PC e do Felipe têm uma tendência meio irritante a concordar com tudo que eles dizem, parecem querer tomar os vídeos como verdades absolutas. O contrário também acontece: vejo pessoas que assistem aos vídeos só pra dizer que não gostaram, que tudo o que eles falam nunca está certo. O que se conclui é que parece ser impossível, para alguns, ver aquilo e manter a maioria das próprias convicções intactas, pois há quem não consiga concordar só com parte do que é dito. Assisto aos vídeos com fins de entretenimento e, às vezes, até reflexão, mas não saio concordando ou discordando de tudo loucamente só porque fulaninho disse isso ou aquilo. Por serem exibidas muitas opiniões das quais eu não compartilho, prefiro chamar de guilty pleasure, porém uma coisa é certa: alguns vídeos são mais paradões, mas outros podem fazer com que você fique com a barriga doendo de tanto rir.

E é isso. Guilty pleasures concedem a permissão para curtir Lady Gaga aos puristas do rock progressivo, o direito a um ocasional vício em coca-cola aos naturebas, uma desculpa para assistir Big Brother aos intelectuais. Possibilitam às pessoas normalmente sãs um consumo de informação sem sentir remorso por desconsiderar momentaneamente o filtro crítico. Não tem problema saber cantar High School Musical, é só um guilty pleasure.
Por estes e outros motivos, A Editora que vos fala é uma grande fã de guilty pleasures.

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