As crônicas marcianas, de Ray Bradbury

Não havia uma boa imagem da capa, então tirei uma foto.    
         
           Depois de muita enrolação – vinda de uma ressaca literária bem forte –, concluí uma leitura que apareceu por acaso na minha lista. Há tempos que eu ouço falar muito sobre Ray Bradbury – infelizmente falecido em 06/06/2012 aos 91 – e vejo sua influência em autores que admiro. Já tinha vontade de ler algo do autor, quando, em um dos meus passeios pela biblioteca de minha escola, encontrei um exemplar de As crônicas marcianas novinho! Nunca havia sido lido. Sem pensar duas vezes, levei essa belezinha pra casa.
            Logo na capa, o livro já começou a me chamar atenção. A edição conta com a apresentação de ninguém mais, ninguém menos, que Jorge Luis Borges, do qual não li nada ainda – não por falta de interesse –, mas respeito por ouvir tantos elogios sobre. A edição da Editora Globo é impecável – fonte de tamanho agradável, memorável apresentação de Borges, tradução competente (principalmente em trechos de poemas contidos nos contos, que não são traduzidos, mas têm notas de rodapé, preservando a musicalidade). Na quarta capa, há uma foto de capa inteira do autor, algo que aprecio muito nos livros.
            As crônicas marcianas são formadas por 26 contos que foram originalmente publicados em revistas de pulp fiction e posteriormente reunidos pelo autor. Os contos podem ser lidos separados, mas juntos, e na ordem correta, compõem uma novela da conquista de Marte pelos homens da Terra, uma espécie de diário de viagens que começa em 1999 e termina em 2026. O primeiro conto nos mostra dois marcianos, o Sr. E a Sra. K, e seu cotidiano em sua casa de cristal. Vemos por seus olhos a chegada da Primeira Expedição.
            Bradbury é um romântico incorrigível e, como defensor dos valores humanistas, desconfia muito do progresso e de onde podemos acabar chegando em seu nome. Como outros autores do gênero, ele também teme que o avanço científico nos leve à catástrofe. Citando a introdução:

 “Bradbury coloca o dedo nas principais feridas da humanidade. O imperialismo, que impõe seus valores e subestima a inteligência e a cultura de outros povos. O racismo, que divide os homens em categorias. O descaso pelo meio ambiente, que leva os habitantes da Terra ao desespero. A censura, que busca reprovar tudo aquilo que não soa correto para o império dominante.”

            Pessoalmente, gostei muito mais dos marcianos de Bradbury do que de muitos dos alienígenas da ficção de prosa e dos quadrinhos. Eles são mais avançados, não tecnologicamente, mas culturalmente. Eles uniram ciência, filosofia e religião em uma só. Apresentam-se ao homem em alguns dos tempos, sempre se comunicando com este através da telepatia. Alguns dos contos em que eles fazem contato com os terráqueos são os mais assustadores do livro.
            Não gosto muito da inconstância dos livros de contos. Uns são mais arrastados, os outros, mais corridos, e sempre há um do qual gostamos mais que do outro. A obra de Bradbury segue um ritmo constante, só o senti desacelerar em ...E a Lua continua brilhando, e isso não é ruim, porque foi um dos contos que mais me agradaram durante a leitura. Nele, Spender, um dos astronautas que aterrissam em Marte, declama um poema de Lord Byron, do qual foi retirado o título do conto. Desde o início, Spender se dá conta da barbárie que os homens representam para o belo Planeta Vermelho e critica as ações deles. Ele ouve da música de Marte, estuda de sua Filosofia e fica maravilhado com a sua arquitetura de cristal. Marte, aqui, é retratado perfeito, em contrapartida com a nossa Terra ordinária e confusa.
            Chegando ao fim do livro, o conto Os longos anos me agradou muito. Ligeiramente cômico, conta a história de um dos últimos homens em Marte – quando todos os outros retornaram à Terra, esvaziando todas as cidades construídas depois de anos e anos no planeta. O conto O piquenique de um milhão de anos encerra o livro com um final impactante que me deixou pensando por longas horas e, digitando esta resenha, alguns dias depois de concluída a leitura, continuo pensativo com o final e seu significado.
            É o tipo de livro para se degustar e apreciar ao máximo, uma obra feita com esmero, que ultrapassa a excelência. Um clássico infelizmente pouco conhecido fora do nicho da science fiction, que se tornou um favorito para toda a vida. Ainda este ano, pretendo ler Fahrenheit 451, do mesmo autor, e é óbvio que minha opinião sobre ele estará aqui assim que ele for lido. Indico As crônicas marcianas a todo mundo, do fundo do meu coração. É uma leitura muito rica.




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