O mercado editorial e a sua pedra filosofal: YAs



Todo mundo gosta de YAs e eu tenho que assumir que também gosto, mas nos últimos tempos o gênero tem se tornado tão saturado e repetitivo que eu não aguento mais ler uma sinopse que começa com “Fulana é uma menina normal, mas sua vida está prestes a mudar para sempre quando conhece Cicrano, o príncipe dos demônios vampiros do reino dos zumbis da febre amarela.”. Simplesmente não dá.
          Para quem caiu de paraquedas direto de Saturno, ou vive em uma caverna, ou esteve congelado em uma nave do Caveira Vermelha nos últimos 70 anos, YA é a abreviação de Young Adult, o gênero Jovem Adulto, indicado para adolescentes e pós adolescentes ainda não adultos. Normalmente os livros deste gênero têm uma prosa simples, sem ser detalhistas em demasia, personagens adolescentes e costumam tratar, muitas vezes em segundo plano, um pouco dos “dilemas” do cotidiano dos jovens. Um movimento muito forte dentro dos YAs é o Fantasy, que por si só tem outros submovimentos como o Urban Fantasy, Modern Fantasy, Medieval, o famigerado Distopia e trocentos outros.
          O que acontece é que, há algum tempo, alguém descobriu a galinha dos ovos de ouro, a Pedra Filosofal dos escritores, e isso gerou uma avalanche de histórias cada vez mais manjadas, sempre iguais, sobre a Fulana que vive sua vida normal e cairá no mundo mágico de algum jeito. Dá pra dizer que esse boom de fantasia, que alavancou o movimento que ainda não cessou até hoje, começou com Harry Potter, que todo mundo sabe ser uma das publicações mais bem sucedidas que já se viu até hoje. Antes de Harry Potter, já existiam outros livros memoráveis, como os de Philip Pullman, mas foram os livros de Rowling que mudaram pra valer o mercado editorial infanto-juvenil e jovem adulto.
          Para começar, todas as editoras queriam uma série de sucesso como Harry Potter, que estava quebrando recordes e vendendo mais que Starbucks em encontro de hipsters. Então apareceram os genéricos. Talvez alguns tenham sido encomendados por editoras ou talvez fossem somente fruto da mente de autores que também vibraram com a riqueza imaginativa de Rowling e queriam fazer algo parecido – uns bem intencionados, outros não.
          O gênero YA, que cresceu muito nessa era pós Harry Potter, se direciona então para a criançada que já não é tão criança, o pessoal que já leu Harry Potter, mas viu algo interessante na forma como a Bella e o Edward são ótimos vendedores de sexo ou achou as fofocas da Garota do Blog indispensáveis. A cria de Rowling cresceu e tem buscado os temas que os autores influenciados por ela, cada vez menos ingênuos, abordam. O que acontece é que, com essa superprocura pelos YAs, algumas pérolas começaram a aparecer, outros estopins de movimentos que geraram mais e mais obras genéricas.
          Um bom exemplo é o livro Jogos Vorazes, da americana Suzanne Collins. A história do livro todo mundo conhece. Se você estava cumprindo pena em Klingon nos últimos anos e não sabe do que se trata a história de Collins, clique aqui. Depois do sucesso estrondoso de Jogos Vorazes, uma miríade inteira de YAs que se auto intitulam distópicos nasceu do dia para a noite. A minha sincera opinião de quem só leu o primeiro livro de Jogos Vorazes e não tem tanto interesse em ler os dois seguintes: Leia um e lerá todos. Essa máxima também se aplica aos livros de Rick Riordan e aos livros de Cassandra Clare, que também estão, ao que parece, se moldando voluntariamente para se encaixarem nesta frase.
          Esses autores, Riordan, Clare, Meyer e tantos outros, se tornaram Best Sellers reconhecidos mundialmente, os grandes money makers do momento. Descobriram cada um a sua fórmula de fazer dinheiro e a continuam utilizando, escrevendo séries de dez livros ou sequências para um livro standalone só para que este possa ter sequências para sua adaptação cinematográfica. Triste é ver os pobres leitores, muitos ingênuos para entender o que os autores estão fazendo com eles, que continuam comprando e comprando, três, cinco, dez livros, todos iguais, ecos de uma primeira tentativa bem-sucedida.
          É triste ver que esse movimento chegou ao Brasil não por meio de traduções, mas com a nova geração de escritores que entram no mercado editorial através de editoras espertas que lhes cobram investimento para publicar seus livros de histórias verdes, pouco originais, muito influenciadas pelo movimento dos Harry Potters genéricos. Pobres autores que, ingênuos, ingressam prometendo escrever séries e mais séries – e nem expressarei minha opinião sobre a avalanche de séries – sobre a sua história de uma Fulana que vivia uma vida normal.
          Eu poderia me prolongar no assunto, citar vários exemplos de mais histórias que são tão originais quanto sapato de funkeiro, mas isso encheria linhas e linhas sem sentido. Você, caro leitor, discorda de algo que eu disse? Deixe nos comentários a sua opinião.
Nota d’A Editora: Não se deixem enganar, Nic é fá de Harry Potter.
Nota da Lu:  "Para quem caiu de paraquedas direto de Saturno, ou vive em uma caverna, ou esteve congelado em uma nave do Caveira Vermelha nos últimos 70 anos." Tipo eu? Hahaha, não conhecia esse termo até ter contato com os livros da Clare. O que eu posso dizer? Amo Harry Potter desde os onze anos e sou fã de Jogos Vorazes desde os vinte e um. Dentro do que o Nic falou, a trilogia A Seleção é basicamente uma cópia de Jogos Vorazes (só que muito mais romântico), meio que um crossover entre uma distopia e um conto de fadas (mesmo sendo fraquinha, algo nessa trilogia me cativou). O que mais eu posso dizer? HARRY POTTER FOREVER!

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